domingo, 28 de outubro de 2007

Nazaré...

«Encho os olhos de azul antes do regresso,
como um camelo que vai atravessar um deserto incolor.
O incolor deserto quotidiano…»

Diário, de Miguel Torga
**

"Paro um momento para observar. Vejo a praia, assim, despida de gente, e ouço o sussurro do mar ordenar-me que fique. Viro as costas, relutante, dou dois passos e não resisto… volto atrás. Imensas recordações assomam à minha mente: os dias de criança em que brincava com o pai na areia, as aventuras e desventuras vividas por entre as escarpas, as vezes que me escondi atrás daquele rochedo, só para ficar só…
Considero um capricho deixar-me ficar para trás. Faço birra, como as crianças: não arredo pé do mar! O mundo que me espera, esse, tem de esperar, tem de aprender a esperar. Sei bem que não é eterno, como o mar, mas de que me vale correr? Vou encontrar as mesmas pessoas, os mesmos momentos, os mesmos lugares. São sempre os mesmos, mas estão sempre a mudar. É um mundo insosso e sem sentido, em que o grande Deus artista usou todas as cores, e fez tal mescla, que o mundo é incolor. Parece um deserto, um deserto de amor.
No mar, não! No mar, as ondas renovam a cada momento o seu sentimento, a espuma banha ao ritmo do cosmos a areia cândida, as aves cumprem o seu ciclo, vão e vêm, a natureza pauta, languidamente, os trilhos da criação.
Apercebo-me, então, que é uma birra sem justificação. Embora o mundo corra à razão da necessidade por segundo, para o ano, há também Verão. E revisitarei a praia, e revisitarei todo o meu mundo interior, que quer, que espera, que sonha, guiar-se pelo bater do coração do mar na travessia do deserto.
Finalmente, ganho coragem para virar costas. Olho mais uma vez para aquele azul, e encho-me dele. Sou sôfrego daquele mar, daquele céu. Levo-os na recordação. Caminho um pouco, devagar, penosamente, como que a fazer luto do mar. Alguém me apressa, mas não respondo. Este momento é só meu!
Até sempre, sempiterno lar!"
Diogo Teixeira Santos
***
O Diogo é um jovem maravilhoso!
É ...meu afilhado!
Obrigado Diogo!

10 comentários:

Paulo disse...

A praia....
Ainda me lembro do azul-prata que crescia no horizonte no mês no passado mês de Agosto . Empurrado pelos olhares famintos e velados deixei, no murmúrio das ondas do mar, réstias de tempo vivo... lugares de ausência.
Mas hei-de voltar....a essa prais mais a Sul....
Beijo

figlo disse...

Nasci á beira-mar.trago nos meus ouvidos o bater das ondas nos rochedos e por vezes sinto saudades desse som, sempre igual, sempre diferente...
"Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim,
A tua beleza aumenta quando estamos sós
e tão fundo intimamente a tua voz
segue o mais secreto bailar do meu sonho,
Que momentos há em que eu suponho
seres um milagre criado só para mim."
Sophia de Mello Breyner Andresen

João JR disse...

è lindo sim Elsa:)) Parabéns!!!
um gd beijinho ao diogo e a ti
boa semana

Anónimo disse...

Menino Diogo, estás a sair aos teus, parabéns!

Quem ama ao mar(como eu), o carrega no sangue.

Bjs
Ana

Fá menor disse...

Belíssimo texto! revi-me nele...

Bjinhos

Fa-

MIMO-TE disse...

Ter um afilhado assim é uma benção!
O texto é lindo e quem o escreveu também, sem dúvida.


Beijos e mimos para os dois.

rosa dourada/ondina azul disse...

O texto é lindo, parabéns aos dois !!!



Beijinho para ti,

Marlene Maravilha disse...

Eu nasci numa ilha, Ilha de Santa Catarina- Florianópolis, Sul do Brasil e entendo o que é o mar.
Preciso dele nem que seja para olhar! SEntir o cheiro e o marulhar das ondas!
Lindo texto. Lindo lugar!
beijos

DTS disse...

Agradeço a todos a simpatia!
A Elsa, sim, é uma pessoa maravilhosa! Vejam tudo o que faz, move mundos e fundos, por pessoas que moram no outro hemisfério do globo.

Abraços e beijinhos a todos,

Diogo, A.M.D.G.

Joaquim Luís Monteiro Mendes Gomes disse...

Ah!!!mas ainda ninguém gostou do "fui ver o meu sol a morrer!..." Também é lindo!...Ah!...ahh!...Ahhh!...Claro que estou a brincar... Talvez se fosse "....o Sol a nascer!..Se calhar era amesma coisa. Não sou propriamente a Sofia!...
Mas, brincadeiras ao lado...está muito bem escolhido o tema e documentado. Como gosto de estar diante do mar...Para mim, É a realidade terrena mais próxima do Infinito...