2011 - Ano Europeu do Voluntariado


Voluntariado: Reflexão para o mês de Outubro

“O voluntariado missionário procura os povos mais carenciados”

O mês de Outubro é sempre o mês missionário. A Igreja é por sua própria natureza missionária, sempre e em toda a parte. Neste mês, celebra-se o Dia Mundial das Missões que coincide sempre com o penúltimo domingo. Nesta data, em todas as igrejas e comunidades cristãs reza-se e praticam-se gestos de solidariedade para com as igrejas mais pobres afim de que possam desenvolver as suas tarefas pastorais e sociais: é o dia da partilha e da confraternização.

O voluntariado missionário está animado pelo mandato que Jesus deixou à sua Igreja antes de voltar para o Pai: “Ide pelo mundo inteiro, proclamai o Evangelho a toda a criatura” (Mc 16,15). É um mandato que atinge todos os discípulos do Senhor que a partir desse momento se tornam discípulos missionários. Duas são as características dos voluntários missionários:

O espírito que anima a sua vida: mais do que o que faz, é importante saber como o faz, que espírito anima a sua acção. Claramente é a fé e o amor com o qual realiza o seu serviço.

A evangélica opção preferencial pelos pobres: é claro que a missão “ad gentes” deve nortear o seu serviço de promoção e animação de um mundo carenciado em todas as suas dimensões.

A Missão e o hoje de Deus

As rápidas transformações sociais, económicas e políticas criam situações novas que estão no centro da missão “ad gentes”. “Fui enviado para evangelizar os pobres”, proclamou Jesus na sinagoga de Nazaré. A nossa sociedade globalizada, neoliberal e capitalista deixa na beira do caminho tantos grupos de pessoas que esperam uma “boa e nova notícia”. Entram perfeitamente dentro das prioridades missionárias da Igreja e por isso aqui enumeramos alguns desses grupos:

- as minorias étnicas sem os próprios direitos reconhecidos; o mundo indígena e dos afro-descendentes; pensemos, por exemplo, na nossa Amazónia, lugar de fronteira, de periferia e de deserto, com a luta pela demarcação de terras; como Missionários da Consolata, estamos entre os Yanomamis, no Catrimani, na Amazónia, há mais de quarenta anos e ainda não temos um cristão. Só agora começa o primeiro anúncio;

- as minorias dos trabalhadores rurais em permanente situação de injustiça institucionalizada;

- os sem terra e sem água, que habitam os nossos “sertões” em diversos continentes;

- os meninos/as de rua, a mulher marginalizada e crianças exploradas pelo trabalho infantil ou pelo comercio sexual;

- os refugiados, gerados pelas guerras ou ódios tribais;

- os milhões de migrantes à procura de uma vida melhor;

- os portadores do HIV e outras situações da nossa sociedade que excluem e marginalizam: pensemos na África onde a maior parte das nações está em perigo por causa desse vírus e isto não é por acaso; parece que é uma política escondida pelos grandes para o controle do crescimento da população; para os pobres, os controles e os métodos ocidentais não servem para nada; então, deixam-se à mercê da morte;

- os migrantes da nossa grande cidade;

- as favelas das grandes metrópoles.

Tudo o que é exclusão, marginalização e esquecimento faz parte prioritária da missão da Igreja. Pensemos em tantos “porões” humanos que existem nas nossas sociedades de bem-estar e de injustiça institucionalizada. Quem, diante de todas estas situações responde com amor livre e libertador, e se torna Evangelho vivo, Palavra escrita pelo Espírito, não em tábuas de pedra, mas na carne dos seres humanos? (cf. Cor 3,3).

Estes são os campos onde o voluntário poderia realizar um trabalho adequado às suas possibilidades; o “ad gentes” tem uma preferência especial pelos povos mais carenciados.

De maneira nenhuma podemos diminuir o valor missionário dos voluntários que estão também entre os pobres, mesmo oferecendo outros serviços, sem motivações de fé. “Oxalá que todos fossem profetas”, respondeu Moisés quando alguns foram denunciar que outros estavam profetizando fora do grupo.

O que se faz aos pequenos, também se faz por Cristo. Quem oferece parte da sua vida a melhorar este mundo de todas as opressões, crente ou não-crente, está a colaborar com Deus para que aconteça “um novo céu e uma nova terra”.

Pe. Ramón Cazallas

Voluntariado: Reflexão para o mês de Setembro

“Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” Jo 15, 12

Jesus, na última ceia, dá um mandamento novo aos seus discípulos: “É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei”. O mandamento é novo porque é de Jesus: meu e novo quer dizer a mesma coisa. A essência de ambos está baseada naquelas palavras “como eu vos amei”. O “Eu” indicaria a propriedade e o “como” a novidade. E a propriedade e a novidade expressam-se nas palavras “levou o seu amor por eles até ao extremo”.

O voluntariado, para um cristão, é consequência desse mandamento novo que nos indica Jesus. Não podemos, portanto, excluir o serviço da nossa vida e o amor ao próximo porque então não entenderíamos a novidade do mandamento de Jesus.

Mudar de vida: É uma consequência deste novo mandamento. O homem que está à escuta do seu irmão e que se abre à presença e acção divinas, pouco a pouco irá pôr novamente em questão o seu próprio estilo de vida. A corrida à abundância - na qual se lançam cada vez mais homens, e com frequência no meio duma miséria crescente - dará progressivamente lugar a uma maior simplicidade de vida, já esquecida em muitos países, mas que se torna de novo possível e até mesmo desejável, quando cessar nas opções do consumidor a preocupação pelas aparências.

Enfim, o homem que aceita mudar o seu modo de ver para adoptar aquele que o próprio Deus nos mostrou nas palavras de Cristo, pôr-se-á, graças a esse novo modo de ver, ao serviço do bem comum, da promoção integral de todos os homens e de cada homem em particular.

Para mudar a vida: progressivamente libertado dos seus temores e ambições puramente materiais, elucidado acerca das possíveis consequências das suas próprias acções, seja qual for o lugar que ocupe, o homem que acolhe a presença de Deus em todos os aspectos da sua vida tornar-se-á um agente da civilização do amor. Discretamente, em profundidade, o seu trabalho assumirá um carácter de missão, na qual tem o dever de exercer e desenvolver os seus talentos, contribuir para a reforma das estruturas e das instituições, adoptar um comportamento de qualidade que estimule o seu próximo a agir da mesma forma, e estar essencialmente orientado para o serviço da dignidade da pessoa humana e do bem comum.

Muitas vezes esquecemos o mandamento novo de Jesus e caímos no ritualismo que pretende manipular o Espírito para o domesticarmos. Nas nossas eucaristias ou assembleias invocamos frequentemente o Espírito Santo mas com guarda-chuvas. Assim não nos impregnamos da sua força e da sua luz. As nossas pastorais repetitivas afogaram a novidade. A liberdade assusta-nos. Estamos paralisados por séculos de sedentarismo da fé. É urgente redescobrir a criatividade para poder responder aos desafios vindos da história, da natureza em perigo, do clamor dos nossos irmãos e irmãs ameaçados na sua subsistência.

Necessitamos de nos desprender do nosso ego e da nossa comodidade para nos deixar invadir por este vento renovador que nos leva mais além dos nossos cálculos, privilégios e esquemas de poder tão zelosamente conservados. O mandamento novo de Jesus traz sempre uma novidade que devemos ir descobrindo aos poucos. O amor, como dizia Santa Teresa de Jesus, “nem cansa nem se cansa”.

Qualidades do amor: O apóstolo S. Paulo na carta aos Coríntios (cap. 13) eleva um canto ao amor como experiência de gratuidade e comunhão com Deus que vincula os homens com a comunidade e com os outros que estão fora da comunidade. Paulo fala da experiência radical de Deus na vida dos homens que se amam simplesmente como humanos. Esta é a melodia firme, esta é a base do amor: que cada um procure o bem dos outros, não o próprio; que pense, sem cessar, no que ao outro convém, não segundo o esquema de quem ama, mas segundo aquele que tem que ser amado. Que o amor dialogue e dialogue em igualdade, escutando-nos uns aos outros para assim conhecermos aquilo que nos pedem ou pretendem de nós.

O mandamento novo de Jesus faz de todos os cristãos “voluntários com espírito” que significa que toda a vida é um voluntariado que só termina quando estivermos com Deus. Constatamos porém que também há pessoas que não têm fé que estão votadas ao amor.

Pe. Ramón Cazallas






Voluntariado: Reflexão para o mês de Agosto

“O voluntário é o exemplo vivo do bom Samaritano”

Parábola do Bom Samaritano é uma famosa parábola que aparece unicamente no Evangelho de S. Lucas (10, 25-37). O ponto de vista maioritário indica que esta parábola foi contada por Jesus a fim de ilustrar que a compaixão deveria ser aplicada a todas as pessoas, e que o cumprimento do espírito da Lei é tão importante quanto o cumprimento da letra da Lei. Jesus coloca a definição de próximo num contexto mais amplo do que a lei.

O ensino oferecido por Jesus Cristo nesta edificante parábola é dos mais significativos. Nele podemos apreciar o exercício da caridade despretensiosa e incondicional, no seu sentido mais amplo, sem limitações.

O samaritano, considerado herege e apóstata pelos judeus ortodoxos, foi o paradigma tomado pelo Mestre para nos indicar tão profundo ensinamento. Para os israelitas, os samaritanos não eram capazes de fazer o bem porque estavam fora da lei. Mas este samaritano que pára diante do homem ferido à beira da estrada, para Jesus é “bom samaritano”.

O grande mérito da parábola consiste em fazer evidenciar aos nossos olhos que o indivíduo que se intitula religioso e se julga virtuoso aos olhos de Deus nem sempre é o verdadeiro expoente de virtudes que julga possuir. Ensina aos outros como fazer caridade, mas ele nem de longe quer praticá-la.

O sacerdote que passou primeiro, certamente atribuía a si qualidades excepcionais e julgava-se zeloso cumpridor da lei e dos preceitos religiosos. Ao deparar com o moribundo, com certeza balbuciou uma prece em seu favor, mas daí até à ajuda directa a distância é enorme. O mesmo deve ter sucedido com o levita. Ambos tinham pressa de chegar ao templo para fazer as suas orações e talvez os sacrifícios. Não podiam parar para atender um homem ferido e solitário que estava ali ao lado.
O samaritano, considerado desprezível pelos judeus ortodoxos, mas cumpridor dos seus deveres humanos, não se limitou a condoer-se do moribundo. Chegou-se a ele e socorreu-o da melhor forma possível, levando-o em seguida a um lugar de repouso onde melhor pudesse ser assistido, recomendando-o ao hospedeiro e prontificando-se a pagar todos os gastos aquando da sua volta.

A caridade foi ali dispensada a um desconhecido, e quem a praticou não pediu recompensa, o que não é muito comum na Terra, onde todos aqueles que praticam gestos caridosos, pensam logo nas recompensas futuras, na retribuição na vida espiritual.

Os samaritanos eram dissidentes do sistema religioso implantado na Judeia. Com o fito de demonstrar a precariedade dos ensinamentos da religião oficial, Jesus Cristo figurava os samaritanos como sendo aqueles que melhor haviam assimilado os seus ensinamentos, concretizando em factos tudo aquilo que aprendiam através das palavras. O próximo do Samaritano foi o doente do caminho.

O voluntário, de qualquer raça, religião ou estado social pode ser “bom samaritano” quando é capaz de parar diante dos “feridos” que encontra no seu caminho. São esses o seu próximo. Ao doutor da lei (actuais teólogos) que fez a pergunta, Jesus respondeu: “vai e faz tu também o mesmo”.

Estamos numa Igreja-comunidade que para além do culto deve ser uma Igreja samaritana, aberta ao homem de qualquer condição, capaz de parar perante os caídos da nossa sociedade, sem passar adiante só porque tem que chegar pontualmente ao Templo.

Pe. Ramón Cazallas




Voluntariado: Reflexão para o mês de Julho

“Sempre haverá sofrimento que precise de amor e ajuda” Bento XVI


O sofrimento faz parte da condição actual do homem, como indica já o livro do Génesis (3, 19): “Comerás o pão com o suor do teu rosto, até que voltes à terra de onde foste tirado…”. O tema do sofrimento está presente em toda a história da salvação e, mais ainda, em toda a história dos povos e culturas. Na Bíblia, as páginas mais trágicas e sábias encontramo-las no livro de Job como resposta à pergunta sempre nova e sempre antiga sobre o sofrimento do justo.

Do sofrimento ou paixão de Jesus tratam os quatro evangelhos. A Bíblia não elabora uma visão ascética nem moralista do sofrimento do homem, mas integra-o dentro da experiência de solidariedade e comunicação pessoal na linha da revelação de Deus e da paixão de Jesus.

O sofrimento faz parte da natureza humana e não é consequência do pecado como alguns o apresentam sempre. O sofrimento faz parte da natureza em geral porque ela tem os seus limites, uns inerentes á própria natureza outros provocados pelo homem, pela sociedade ou por fenómenos naturais que atingem a pessoa humana. Perante esses limites, as pessoas podem ter atitudes positivas ou negativas: podem enfrentar os problemas e muitas vezes aliviá-los ou conseguir que desapareçam.
Há pessoas que sofrem as injustiças humanas derivadas de leis injustas ou da má distribuição das riquezas: os direitos ao emprego, à saúde, à cultura, à habitação, etc. Há outras que sofrem por causa dos fenómenos da natureza: terramotos, vulcões, inundações, etc. Há o sofrimento causado por uma desgraça familiar, pelas doenças ou pela solidão que a vida apresenta.
Mas vejamos alguns exemplos que podem iluminar uma situação social muito corrente na actuação política de alguns Estados. Os conflitos regionais ceifaram cerca de 17 milhões de vidas em menos de meio século. «Nos anos 80, o total mundial das despesas militares atingiu um nível sem precedentes em tempos de paz; avaliadas em um trilião [mil biliões] de dólares [por ano], representam cerca de cinco por cento do total dos rendimentos mundiais». É necessário recordar a importância e a urgência que todos os responsáveis políticos e económicos têm de agir de maneira que estas enormes quantias destinadas à morte, tanto no hemisfério Norte como no hemisfério Sul, passem a sê-lo em prol da vida. Tal atitude corresponderia às motivações morais favoráveis a um desarmamento progressivo; dar-se-ia, assim, a ocasião para tornar disponíveis importantes recursos financeiros a favor dos países em vias de desenvolvimento, indispensáveis para o seu progresso autêntico.

Uma «estrutura de pecado» particularmente tenaz é a exportação de armas, superior às necessidades legítimas de autodefesa dos países compradores, ou destinadas a traficantes internacionais, que propõem hoje em catálogos, àqueles que dispõem do poder de compra, as armas mais sofisticadas. Neste campo, prospera a corrupção, mas o mal é ainda mais profundo. Podemos congratular-nos com os governos que, tendo alcançado o poder, após regimes que haviam empenhado os seus países em compras de armas que superavam enormemente as próprias necessidades, tiveram a coragem de denunciar tais contratos, correndo inclusivamente o risco de não poder mais contar com a boa vontade dos países exportadores.

Este é um exemplo de sofrimento para muitos povos e pessoas que não é novo, mas não dá sinais de parar. Estão em jogo muitos milhões de pessoas. Podemos ficar indiferentes perante tanto sofrimento que produz mortes, fome, refugiados e insegurança das pessoas?

Uma atitude do voluntário ou voluntária seria denunciar ou então unir-se a tantas redes sociais para consciencializar sobre situações que atingem muitas pessoas e associar-se a campanhas de alfabetização, luta contra a fome, etc.

E não esqueçamos as pequenas e grandes situações que existem ao nosso redor: pessoas sozinhas, enfermos que precisam de pequenas ajudas, gente que sofre desgraças imprevistas e agradeceriam companhia. Como diz Bento XVI: “Sempre haverá sofrimento que precise de amor e ajuda”. Perto e longe, grande ou pequeno, porque o amor não tem dimensões e é sempre mais expansivo e intensivo. Quanto mais se ama, mais se quer amar.

Pe. Ramón Cazallas





Voluntariado: Reflexão para o mês de Junho

“O voluntariado é gratuidade e solidariedade”

Entendemos como voluntariado “o trabalho que se realiza livremente, sem expectativa de remuneração económica, em benefício de alguém que não seja família imediata, sem ser pedido pelo Estado ou outras instituições públicas”

"Que já têm a forma do nosso corpo;
E esquecer os nossos caminhos
que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia;
E se não ousarmos fazê-la;
Teremos ficado para sempre;
À margem de nós mesmos.”
(Fernando Pessoa)

Com estes versos do escritor Fernando Pessoa podemos enumerar algumas finalidades do serviço voluntário que impregnam a alma das pessoas que a ele querem dedicar parte da sua vida ou a vida inteira. É o tempo da travessia, de passar para a outra margem e abrir o coração para partilhar com os outros as riquezas que Deus nos deu:

Altruísmo: os voluntários pretendem o benefício de outros sem receber nenhuma gratificação económica. È uma dedicação vivida na gratuidade absoluta.

Solidariedade: trabalha-se não só para os outros, mas com outros, sentindo os seus problemas como próprios, promovendo acções para os solucionar e recolhendo os benefícios obtidos. O pobre chama-nos ao amor.

Qualidade de vida: ajudar os outros faz com que o voluntário se sinta bem.
Devolução de favores recebidos: as pessoas que beneficiaram do trabalho voluntário de outras devolvem à sociedade aquilo que receberam. Bento XVI diria que o voluntário, quando ajuda, descobre, que “também ele é ajudado” e por isso este jeito de servir faz humilde a quem serve e converte-se numa “escola de vida para os jovens” (cf. Deus Caritas est, n 30 e35).

Convicções religiosas: a fé move os voluntários crentes. Quem acredita em Cristo tem motivações muito profundas que nascem do próprio baptismo e do mandamento do amor que está na raiz do ser cristão. Na tradição da Igreja encontramos frequentes exortações a praticar o que hoje chamaríamos “voluntariado social”. Vejamos um exemplo: Santo Agostinho dizia num sermão: “Cada qual dê ao outro o que tem; outorgue ao necessitado o que tem a mais. Um tem dinheiro: alimente o pobre, vista o nu; um pode pôr os seus pés à disposição do coxo; outro, conceder os seus olhos para guiar um cego; um visite um doente; outro dê sepultura a um morto. Estas coisas são comuns a todos, de forma que é muito difícil encontrar alguém que não tenha nada que oferecer a outro”. São pequenos serviços os que este Santo nos apresenta, mas estão ao alcance de qualquer pessoa.

Aumentar as relações sociais: Através do voluntariado, para além dos voluntários que se dedicam a uma mesma finalidade e costumam ter interesses comuns, pode-se conhecer muita outra gente.
Celebramos neste mês de Junho duas festas que nos ajudam a crescer na solidariedade e na gratuidade. A primeira é a festa de Nossa Senhora da Consolata: ela foi consolada por Deus e ao mesmo tempo fez-se consoladora para todos os povos. Pura gratuidade da parte de Deus em relação a Maria, e pura gratuidade da parte de Maria que dedicou toda a sua existência para consolar os aflitos e os tristes com a mesma consolação com a qual ela foi consolada. A segunda festa é a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Deus faz-se pão partilhado para a vida do mundo. É para os cristãos o ideal e o ícone de se tornar pão para todos e alimento para todas as fomes que hoje vão aparecendo no mundo.

Pe. Ramón Cazallas


Voluntariado: Reflexão para o mês de Maio

O voluntariado é gratuidade e solidariedade

Entendemos como voluntariado “o trabalho que se realiza livremente, sem expectativa de remuneração económica, em benefício de alguém que não seja família imediata, sem ser pedido pelo Estado ou outras instituições públicas”


"Que já têm a forma do nosso corpo;
E esquecer os nossos caminhos
que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia;
E se não ousarmos fazê-la;
Teremos ficado para sempre;
À margem de nós mesmos.”
(Fernando Pessoa)

Com estes versos do escritor Fernando Pessoa podemos enumerar algumas finalidades do serviço voluntário que impregnam a alma das pessoas que a ele querem dedicar parte da sua vida ou a vida inteira. É o tempo da travessia, de passar para a outra margem e abrir o coração para partilhar com os outros as riquezas que Deus nos deu:

Altruísmo: os voluntários pretendem o benefício de outros sem receber nenhuma gratificação económica. È uma dedicação vivida na gratuidade absoluta.

Solidariedade: trabalha-se não só para os outros, mas com outros, sentindo os seus problemas como próprios, promovendo acções para os solucionar e recolhendo os benefícios obtidos. O pobre chama-nos ao amor.

Qualidade de vida: ajudar os outros faz com que o voluntário se sinta bem.
Devolução de favores recebidos: as pessoas que beneficiaram do trabalho voluntário de outras devolvem à sociedade aquilo que receberam. Bento XVI diria que o voluntário, quando ajuda, descobre, que “também ele é ajudado” e por isso este jeito de servir faz humilde a quem serve e converte-se numa “escola de vida para os jovens” (cf. Deus Caritas est, n 30 e35).

Convicções religiosas: a fé move os voluntários crentes. Quem acredita em Cristo tem motivações muito profundas que nascem do próprio baptismo e do mandamento do amor que está na raiz do ser cristão. Na tradição da Igreja encontramos frequentes exortações a praticar o que hoje chamaríamos “voluntariado social”. Vejamos um exemplo: Santo Agostinho dizia num sermão: “Cada qual dê ao outro o que tem; outorgue ao necessitado o que tem a mais. Um tem dinheiro: alimente o pobre, vista o nu; um pode pôr os seus pés à disposição do coxo; outro, conceder os seus olhos para guiar um cego; um visite um doente; outro dê sepultura a um morto. Estas coisas são comuns a todos, de forma que é muito difícil encontrar alguém que não tenha nada que oferecer a outro”. São pequenos serviços os que este Santo nos apresenta, mas estão ao alcance de qualquer pessoa.

Aumentar as relações sociais:
 Através do voluntariado, para além dos voluntários que se dedicam a uma mesma finalidade e costumam ter interesses comuns, pode-se conhecer muita outra gente.
Celebramos neste mês de Junho duas festas que nos ajudam a crescer na solidariedade e na gratuidade. A primeira é a festa de Nossa Senhora da Consolata: ela foi consolada por Deus e ao mesmo tempo fez-se consoladora para todos os povos. Pura gratuidade da parte de Deus em relação a Maria, e pura gratuidade da parte de Maria que dedicou toda a sua existência para consolar os aflitos e os tristes com a mesma consolação com a qual ela foi consolada. A segunda festa é a solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo. Deus faz-se pão partilhado para a vida do mundo. É para os cristãos o ideal e o ícone de se tornar pão para todos e alimento para todas as fomes que hoje vão aparecendo no mundo.

Pe. Ramón Cazallas


Voluntariado: Reflexão para o mês de Maio
Não sou mais que um instrumento de quem Ele se quer servir
Irmã Lúcia

A Comissão dinamizadora espera que o Ano Europeu do Voluntariado provoque um crescimento de voluntários e uma maior consciência do seu valor acrescentado, e que realce a relação entre o trabalho de voluntariado a nível local e a sua importância no contexto europeu mais amplo.


Falando deste tema, queremos também apontar, como cristãos e missionários, o voluntariado espiritual que muitas pessoas realizam na Igreja através da doação da própria vida na vocação contemplativa como fonte de ajuda concreta à nossa sociedade. A Comissão Europeia espera e deseja que este ano ajude as pessoas a tomarem uma maior consciência sobre o trabalho do voluntariado e o seu valor.

Com estas breves páginas gostaríamos que a Europa tomasse consciência das raízes cristãs sobre as quais está alicerçada. A Europa não pode ignorar que cresceu na sua cultura, arte e história com homens e mulheres que viviam intensamente o Evangelho de Jesus: São Bento, os Santos Cirilo e Metódio, Santa Catarina de Sena e Santa Brígida da Suécia foram artífices de cultura e união dos diversos reinos existentes na Europa. Hoje são os Padroeiros do continente. Os Pais que sonharam a nova Europa, como hoje a conhecemos, eram todos cristãos, alguns em processo de beatificação. Todos eles e elas foram instrumentos de Deus para construir e trabalhar pela unidade do Continente no sentido genuíno da palavra.

Voltando ao “voluntariado espiritual”, a frase da Irmã Lúcia que encabeça o tema deste mês é mesmo reconhecer “que ela é só um instrumento de quem Ele se quis servir”. Este deveria ser o ponto central de todo o voluntariado não só cristão, mas também de todas as pessoas que escolheram este jeito de servir o povo. Ser instrumento significa que nós não somos os proprietários nem aqueles que têm o exclusivo ou o monopólio da verdade e da bondade. Como cristãos, somos instrumentos dóceis nas mãos de Deus para fazer o que Ele nos inspira e para dar respostas às necessidades dos outros. Além da Irmã Lúcia, temos o testemunho e o exemplo da Santa Teresinha do Menino Jesus que sempre considerou a sua vocação como um serviço de amor e como um instrumento nas mãos de Deus para fazer da sua vida uma oferenda para todos. Estas duas carmelitas passaram a sua existência procurando a forma de melhor agradar a Deus e aos irmãos nas pequenas coisas do dia-a-dia. No fundo, elas queriam tornar-se «providência» para os próprios irmãos, especialmente para os que mais precisavam.

Ser instrumentos significa colocar-se ao serviço dos outros nas necessidades que eles têm, e não impor aquilo que nós pensamos que é o melhor para os outros. A chave de fendas é um instrumento nas mãos do mecânico que ele utiliza quando acha que é conveniente. Ela nunca protesta quando não é usada, mas está sempre pronta e disponível para quando o mecânico a quiser utilizar.

Há na Igreja muitas pessoas, homens e mulheres, que vivem a sua fé com este sentido de serem instrumentos para servir o próximo, no silêncio e na gratuidade absoluta.

Neste mês de Maio, olhemos para Maria, fiel instrumento nas mãos de Deus aceitando a sua palavra e o seu projecto para colaborar na salvação do mundo. Podemos contemplá-la como a primeira “voluntária” do novo testamento: quando soube da notícia que a sua prima Isabel precisava de cuidados foi logo em direcção às montanhas da Judeia para ajudar e estar presente até ao nascimento de São João Batista. É a festa da Visitação, do sair da própria tranquilidade para ir ao encontro de quem precisar. 
Pe. Ramón Cazallas


Voluntariado: Reflexão para o mês de Abril







“O que fizestes ao mais pequeno dos meus irmãos, a mim o fizestes”Mt 25, 40
O Voluntariado realiza-se normalmente através de associações dedicadas ao serviço de pobres e carentes em todas as dimensões humanas. Não tem ligação alguma com os governos nem com os poderes políticos legitimamente constituídos. São conhecidas como Organizações Não Governamentais, popularmente conhecidas como ONG. A Igreja Católica sempre apoiou todas aquelas que trabalham pela promoção humana e social e defendem a vida de todas as pessoas sem distinção de raça, religião ou cultura.

Na nossa visão cristã, e acreditando no texto do Evangelho acima citado, todo aquele que faz alguma coisa por um dos últimos deste mundo, é por Cristo que o faz. Poderíamos dizer que, através da narração que o evangelista Mateus faz do juízo final no Capitulo 25, Jesus identifica-se com os pobres deste mundo, com todos os marginalizados e crucificados injustamente pela Sociedade.

Nos pobres, segundo S. Mateus, Deus faz-se presente e próximo. Neles é reconhecida a presença amorosa de Jesus. Os místicos muçulmanos ou “sufis” dizem: “Deus está mais próximo de mim do que a minha veia jugular”. Logicamente fala-se aqui da interioridade e da presença de Deus na pessoa. Esta frase, válida também para a experiência mística cristã, pode ajudar-nos a entender quão próximo está Jesus na pessoa dos seus pobres.

Os cristãos crescerão na sua fé e no seu compromisso na medida em que acreditarem e fizerem com o pobre o que fariam com Jesus. Às vezes, estamos tão perto fisicamente, mas tão longe animicamente. O desafio que se nos apresenta é crescer na consciência da presença e proximidade de Jesus nos pobres que encontramos, que batem à nossa porta e que, com muita frequência, despachamos com um “não tenho nada”, “volte noutro dia”, “deixe de pedir e trabalhe” ou outras tantas frases já feitas.

Graças a Deus, temos tanta gente boa à nossa volta, cristãos ou não, que são testemunhas desta presença próxima das pessoas que sofrem e que precisam de uma mão amiga para poder prosseguir na sua própria vida.

Na espiritualidade da Madre Teresa de Calcutá encontramos pensamentos onde ela, falando às suas irmãs, personaliza a preocupação e dedicação aos pobres nas pessoas concretas. Diz ela: “Para nós, os pobres não são as multidões, é o velhinho concreto, com nome e apelido, que ajudamos até ao último respiro, é o doente que acompanhamos, às vezes com a nossa impotência, vendo nele a pessoa de Jesus”. Para a Madre Teresa, Jesus de Nazaré tinha nome e apelido como cada pessoa o tem. Com o carinho que lhe damos torna-se mais pessoa, sai do anonimato e recupera a sua dignidade mesmo que seja no fim da sua vida.

Duas das mudanças mais importantes que Jesus introduziu no pensamento religioso e na espiritualidade do seu tempo foram a convicção de que Deus não está afastado de nós e que os pobres são os preferidos do Pai.


Este voluntariado, ao reconhecer Jesus nos pobres, mudará completamente não só a vida e a existência do voluntário mas também a vida da pessoa que é ajudada.

Pe. Ramón Cazallas




Voluntariado: Reflexão para o mês de Março


Sem voluntariado o bem comum e a sociedade não podem durar muito
Bento XVI

Na União Europeia, são quase 100 milhões os cidadãos de todas as idades que investem o seu tempo, o seu talento e o seu dinheiro para dar um contributo positivo a favor da sua comunidade, através do voluntariado. É importante esta afirmação do Papa, porque cem milhões de pessoas que realizam um trabalho voluntário são muitas pessoas. Significa que os Estados não podem resolver todas as necessidades e carências dos seus cidadãos.


É uma lição de solidariedade e de gratuidade que os povos da Europa oferecem a outros continentes e culturas. Podemos deduzir que as raízes cristãs da Europa ainda estão vivas e que o húmus do cristianismo ainda orienta a alma dos povos europeus, mesmo que muitos já não se reconheçam como cristãos.


Até ao século XIX, a miséria que dizimava populações inteiras tinha, com muita frequência, uma origem natural. Hoje está mais circunscrita, e na maioria das vezes deriva da acção humana. Basta citarmos algumas regiões ou países para nos convencermos disto: Etiópia, Camboja, ex-Jugoslávia, Ruanda, Haiti... Agora que o homem, mais do que outrora, tem a possibilidade de enfrentar essa miséria, tais situações constituem uma verdadeira desonra para a humanidade.


A solidariedade é, sem dúvida, uma exigência para todos. Felizmente, não é necessário esperar que a maioria dos homens se converta ao amor do próximo para se recolherem os frutos da acção daqueles que agem sem esperar, no contexto da sua própria situação. É preciso acolher como uma sólida razão de esperança os resultados da acção das pessoas que, a todos os níveis, exercem a sua actividade como servidores do homem todo e de todos os homens.


Há-de ser a ideia duma justiça arreigada na solidariedade humana - e que leve portanto o mais forte a ajudar o mais frágil - a guiar os nossos passos em todos lugares onde se faz ouvir a voz do pobre, a fim de se criar um espaço comum onde justiça, paz e caridade conjuguem os seus próprios esforços.


As sociedades não podem construir-se legitimamente sobre a exclusão de alguns dos seus membros. Para ser coerente, esta afirmação implica evidentemente também o direito que têm os pobres de se organizarem para melhor obter a ajuda de todos com a finalidade de se libertarem da miséria.


Não entram nessas cifras do voluntariado tantas pessoas que oferecem o seu tempo e a sua solidariedade sem estarem inscritos nos registos das organizações do voluntariado, e que eu ousaria chamar “voluntários silenciosos”: aqui se poderiam enumerar milhares de indivíduos que voluntariamente prestam serviços às pessoas mais próximas: cuidam e acompanham idosos, levam uma refeição quente ao pobre da esquina, acompanham ao médico a amiga ou o amigo em aperto. Poderíamos falar de muitos casos que nunca aparecerão nas listas oficiais, mas, se essa solidariedade desaparecesse, certamente que a sociedade e o bem comum não poderiam durar muito.


Pe. Ramón Cazallas



Voluntariado: Reflexão para o mês de Fevereiro

“Tinha fome e destes-me de comer” Mt 25, 35

O Capitulo 25 de São Mateus é uma representação do juízo final. É uma parábola com vários elementos alegóricos, cujo ensinamento é que, no fim de tudo, seremos examinados sobre o amor.

Uma das cenas da parábola é a fome e o faminto. Jesus identifica-se com diversas situações pelas quais passam os pobres: Ele é a fome e o faminto. As obras do cristão concretizam-se agora no serviço, por amor, de todo o tipo de necessitados, nos quais está presente o Senhor ressuscitado. Este será o critério para o juízo final. A identificação com Cristo. O importante para Deus e para o seu enviado Jesus é o amor aos homens em geral e aos necessitados em particular, pois Deus é amor.

Não se deve confundir fome com subnutrição. A fome ameaça não só a vida das pessoas, mas também a sua dignidade. Uma carência grave e prolongada de alimentação provoca a debilitação do organismo, a apatia, a perda do sentido social, a indiferença e, por vezes, a hostilidade em relação aos mais frágeis: em particular, as crianças e os idosos. Assim, grupos inteiros são condenados a morrer na desgraça. No decurso da história, esta tragédia repete-se infelizmente, mas a consciência contemporânea compreende melhor do que outrora que a fome constitui um verdadeiro escândalo.
Em todos os países do mundo, se não fecharmos os olhos, a experiência da vida quotidiana leva-nos a cruzar o nosso olhar com pessoas que têm fome. Neste olhar, é o sangue dos nossos irmãos que clama até nós (cf. Gn. 4, 10).

É o próprio Deus que nos provoca naquele que tem fome. A sentença do Juízo final condena sem qualquer compaixão: “... Afastai-vos de Mim, malditos. Ide para o fogo eterno, preparado para o demónio e os seus anjos. Porque Eu tive fome, e vós não Me destes de comer...” (Mt. 25, 41 ss.).

Estas palavras, que provêm do coração de Deus feito homem, fazem--nos compreender o profundo significado da satisfação das necessidades elementares de todos os homens perante o seu Criador: não abandoneis aquele que é criado à imagem de Deus, pois seria abandonar o próprio Senhor! É o próprio Deus que tem fome e nos chama através do lamento do faminto. Como discípulo do Deus que Se revela, o cristão é chamado a escutar o apelo do pobre. Trata-se efectivamente dum apelo ao amor

Segundo a definição das Nações Unidas, “o voluntário é o jovem ou o adulto que, devido ao seu interesse pessoal e ao seu espírito cívico, dedica parte do seu tempo, sem remuneração alguma, a diversas formas de actividades, organizadas ou não, de bem-estar social, ou outros campos...”

Quais as características do voluntário cristão?

- “... Tem o dom de se doar... e, em alguns momentos, sente-se chamado a desenvolvê-lo...”.

- “... Dispõe-se a fazer um trabalho sem interesse de retorno material, mas apenas espiritual... ou em troca de algo intangível...”.

- “... Através da actuação junto da sociedade, sente-se útil... doa a sua força de trabalho em favor de alguma causa humana, social ou ambiental...”.
- “... Tem um conceito mais estruturado do papel do indivíduo na sociedade... pensa e age de maneira colectiva”.

- “... Coloca-se à disposição... contribui... oferece-se sem pensar em retribuição... de livre e espontânea vontade...”.

- “... Valoriza a satisfação pessoal de ter colaborado para tornar os outros mais felizes...”.

Num recente estudo, realizado pela Fundação Abrinq para os Direitos da Criança, definiu-se o voluntário como actor social e agente de transformação, que presta serviços não remunerados em benefício da comunidade; doando o seu tempo e os seus conhecimentos, realiza um trabalho gerado pela energia de seu impulso solidário, atendendo tanto às necessidades do próximo ou aos imperativos de uma causa, como às suas próprias motivações pessoais, sejam estas de carácter religioso, cultural, filosófico, político ou emocional.

Podemos verificar como todas estas características são evangélicas. Entram e enquadram-se perfeitamente nos valores da doação que Jesus viveu e das exigências que ele propõe a todos aqueles que querem entrar no seu seguimento.

Se os organismos e movimentos pela cidadania, com todas estas características, trabalham em favor de todas estas causas justas, nós cristãos não podemos ficar a olhar para eles nem com receio nem com ciúmes. “Oxalá todos fossem profetas”, disse Moisés, e “quem não é contra nós é por nós”, disse Jesus. Todos juntos podemos saciar tantos “cristos que passam fome: fome de pão, fome de saúde, fome de liberdade, fome de cultura, fome de companhia, fome de inclusão. Todos juntos podemos saciar tanta fome que muitos irmãos e irmãs padecem na nossa sociedade. Madre Teresa de Calcutá dizia que o que ela fazia era uma gota no oceano deste mundo, mas sem essa gota o oceano não ficaria repleto.

Pe. Ramón Cazallas



Voluntariado: Reflexão para o mês de Janeiro


Vós sois o sal da terra e a luz do mundo
Mt 5, 13-14

O voluntariado é a prestação de variados serviços em tantas situações de pobreza ou de assistência a pessoas com necessidades básicas em todos os aspectos humanos. São pessoas de todas as idades que prestam um contributo positivo nas suas comunidades, investindo o seu tempo livre em organizações da sociedade civil ou religiosa. É uma forma concreta de participar na construção de uma sociedade mais justa, sobretudo neste tempo de crise, não só no campo económico, mas também no dos valores humanos e religiosos.

Olhando para o nosso ser cristãos descobrimos que todo baptizado é discípulo e missionário. E isto não é dom que possamos conservar só para nós mesmos. Jesus, no Discurso da montanha, narrado por Mateus, dirige-se a todos os seus seguidores-discípulos com estas palavras: “Vós sois o sal da terra e a luz do mundo”. Jesus exorta-os a viver o dom recebido como testemunhas, sublinhando assim o carácter missionário do dom.

Ele compara os discípulos ao sal cujas propriedades são dar sabor e preservar da corrupção: os discípulos receberam o dom de Deus que dá sentido à existência e preserva da morte e da corrupção moral. Os que receberam este dom têm que manifestá-lo sazonando ou temperando o mundo.

A segunda comparação está centrada na luz que, no mundo bíblico, além de iluminar, é necessária para ver e caminhar e, às vezes, faz de referência para a vida e à vida mesma. Se ela tem a finalidade de iluminar seria um absurdo escondê-la ou impedir que ilumine. Portanto, quem recebeu o dom do Evangelho do Reino deve doar a vida e iluminar. O dom recebido tem uma vertente missionária que não podemos ocultar.

Nós, cristãos, temos mais motivações de viver o voluntariado do que outras pessoas. Não podemos perder o sabor da nossa fé e não podemos esconder a luz que recebemos, debaixo do alqueire. Temos que sair para dar sabor a situações ou pessoas que perderam o sentido da vida, iluminar tantas pessoas que não vêem nada claro na sua existência. Nada mais desagradável do que o sal perder o seu sabor e nada mais absurdo do que colocar uma lâmpada debaixo da mesa.

Na União Europeia, quase 100 milhões de cidadãos de todas as idades investem seu tempo, talento e dinheiro para dar uma contribuição positiva à sua comunidade através do voluntariado, nas organizações da sociedade civil, clubes de jovens, hospitais, escolas, clubes desportivos, etc.

Pensemos que talvez muitos desses milhões nem sequer são cristãos, mas mostram um coração disponível para ajudar os irmãos. Todos nós, humanos, temos a possibilidade de sermos “voluntários”. Este serviço não se realiza somente com grandes obras; às vezes é só uma mão amiga estendida a quem precisa, são uns minutos do nosso tempo para acompanhar alguém que vive em contínua solidão e dar uma luz de esperança a outros que se encontram decaídos. Momentos e situações não faltam no dia-a-dia da gente.

O cristianismo é rico em pessoas que doaram as suas vidas num serviço de voluntariado. E não falo só das vocações de especial consagração. Falo de homens e mulheres que na vocação de pais e mães de família encontraram sempre tempo e pessoas para viver a sua vocação em plenitude. Foram “sal” e “luz” no seu trabalho, na educação dos seus filhos e sempre encontraram momentos para ir ao encontro de outras pessoas que precisavam duma presença amiga, que davam sabor a suas vidas e iluminavam seus momentos escuros por causa duma doença grave, precisavam dum prato de sopa quente, duma carícia de mão amiga.

Os discípulos e discípulas de Jesus demonstrem que a sua vida cristã é sempre uma vida de voluntariado porque o maior e verdadeiro voluntário da humanidade foi o Senhor Jesus que deu a vida em resgate de muitos.

Pe. Ramón Serrano






Tema anual: Reflexão para o ano de 2011




O Voluntariado é hoje um sinal positivo das nossas sociedades. Os nossos comentários não pretendem esgotar o tema mas iluminá-lo, a partir da fé cristã com um olhar missionário próprio da nossa vocação missionária.  


Encontrarão citações bíblicas e dos Santos Padres que testemunham a fé e o agir da Igreja desde tempos antigos, mais ainda, desde os tempos de Jesus.