domingo, 4 de janeiro de 2009

Amar...

A LEI DE DEUS É AMAR (Mc 12,30)


"Introdução
O texto que lemos nesta manhã nos fala sobre lei, sobre mandamento. Antes deste versículo, observamos que uma pessoa se aproxima de Jesus disposta a ouvir a resposta certa para a sua dúvida. “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?” (v. 28)

Ora, quem dirigia esta pergunta a Jesus era um escriba. Tratava-se de alguém que, entre os judeus, era aquele que lia e interpretava as leis. Esta era a especialidade de um escriba. Ele era capaz de buscar entender a lei. Mas este profissional da lei ainda não conhecia a essência da lei. Ele falava de lei, mas a lei nunca falava a ele. Talvez ele lembraria alguém que fala de Bíblia, mas a Bíblia nunca fala a ele; alguém que fala do Espírito, mas o Espírito nunca fala a ele; alguém que fala de Jesus, mas Jesus nunca fala a ele; alguém que fala de Deus, mas Deus nunca fala a ele. E a minha pergunta para você nesta manhã é: O que Deus significa para você? O que Jesus significa para você? O que o Espírito significa para você? O que a Bíblia significa para você?

Possivelmente um escriba perguntaria: “O que a lei significa para mim?” Porque falar de lei não é viver a lei, falar do Espírito não é viver o Espírito, falar de Jesus não é viver Jesus, falar de Deus não é viver Deus, falar da Bíblia não é viver a Bíblia.

Falar é produzir discurso. Viver é produzir vida. Muita gente fala, pouca gente vive. Discursos são vazios, são passageiros, duram pouco. A vida, porém, marca as pessoas, porque expressa sentido.

E eu imagino que o incômodo daquele homem que questiona Jesus sobre qual é o primeiro mandamento era exatamente o incômodo de se enxergar na fronteira entre o falar e o viver.

“Qual é o primeiro de todos os mandamentos?” Esta dúvida o inquietava. Qual seria o primeiro mandamento? Que dúvida cruel! Jesus escuta as nossas dúvidas. Jesus não condena as nossas dúvidas. Jesus responde às nossas dúvidas. E Mc 12,29 diz que Jesus “respondeu” àquele homem. Nós duvidamos, nós questionamos, nós perguntamos, e Jesus nos responde.

A resposta de Jesus está aqui: Mc 12,30. (Ler)

“Amarás”. A resposta de Jesus começa com o verbo “amar”. A lei de Jesus, o mandamento de Jesus, tudo isso começa com o verbo “amar”. Afinal, “aquele que não ama não conhece a Deus; porque Deus é amor”, como diz 1Jo 4,8.

Não adianta falar. É preciso amar. E amar é um ato tão autêntico que, no v. 30, que lemos, o advérbio “todo” aparece quatro vezes para expressar a intensidade do verbo “amar”. (Pode contar na sua Bíblia!) “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de todas as tuas forças.”

Eis a intensidade do verbo “amar”. Ou se ama por completo, por inteiro, ou não se ama. O significado de amar é todo abrangente. Envolve todas as dimensões da vida. Coração, alma, entendimento e forças. Porque esta é a lei de Deus. Amar. Este é o mandamento de Deus. Amar.

1. De todo o teu coração
A primeira maneira que a gente ama é de todo o nosso coração. O Senhor nosso Deus só pode ser amado em nosso coração. Porque é aqui, no coração, que mora a máquina que bombeia o sangue que dá vida ao nosso corpo. Sem coração não há vida. Amar a Deus de todo o coração significa deixar Deus ser Deus. Deixar Deus ser o sangue de nossas vidas. Porque se ele nos deu a vida, logo ele é a própria vida, ele é o nosso próprio sangue. Amar a Deus de todo coração é deixar Deus ser Deus, deixar Deus fluir em nossas artérias e passar por todas as nossas veias. Deixar Deus ser vida.

A minha pergunta para você é: Quem está correndo aí nas suas veias é Deus?

Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração.

2. De toda a tua alma
A segunda maneira que a gente ama é por meio de toda a nossa alma. (Eu não sei quantos aqui já ouviram falar de alma, mas ela está aí!) Trata-se do princípio de vida, sem o qual não estaríamos de pé hoje. É aquele “fôlego da vida” soprado em nossas narinas pelo Senhor, como lemos em Gn 3. É, portanto, aquilo que nos anima. Aliás, “ânimo” e “alma” são palavras que têm a mesma origem (“animus” e “animae”).
Quem é que anima você? Quem você acha que providenciou o fôlego de vida para você nesta manhã?

Amarás ao Senhor teu Deus de toda a tua alma.

3. De todo o teu entendimento
A gente ama também através do nosso entendimento. Entendimento vem de entender. Não é possível amar a Deus apenas pela emoção, irracionalmente. É preciso entender. É preciso pensar. Alguém já disse: “Penso, logo existo” (Descartes). Não precisamos ter medo de pensar, porque isso que temos aqui em cima do pescoço foi feito pelo Criador não para ficar enferrujado, mas para produzir pensamento. Sem pensamento não há existência. Ainda não se inventou uma máquina mais inteligente que a cachola humana. E Deus vai ser amado aqui dentro dos nossos neurônios também cada vez que colocarmos este computador que há em nossa cabeça para funcionar. A propósito, sem pensamento não haveria adoração, como se conclui a partir da leitura de Rm 11,33: “Ó profundidade das riquezas, tanto da sabedoria, como da ciência de Deus! Quão insondáveis são os seus juízos, e quão inescrutáveis os seus caminhos!” É na profundidade da sabedoria e do entendimento, que a gente expressa a beleza da obra prima de Deus, porque o Criador é adorado cada vez que a criação funciona. O Criador é adorado cada vez que um pássaro produz o canto, porque foi feito para cantar; cada vez que uma planta produz semente, porque foi feita para germinar. O Criador é adorado cada vez que o cérebro produz um pensamento, porque foi feito para pensar. Bendito seja o Criador!

E você, que é criação também, você adora o Criador como o pássaro o adora cantando e como a planta o adora germinando?

Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu entendimento.

4. De todas as tuas forças

Em último lugar, a gente ama com todas as nossas forças. Afinal, o amor é dinâmico. As nossas forças são como um vulcão em ebulição dentro de nós.
Imagine uma água fervendo. Fica borbulhando, borbulhando, até subir. É dinâmica. Não se controla. Amar com todas as nossas forças significa dizer que o amor está borbulhando em nós, de modo que tudo o que há em nós quer amar. Deus acendeu um fogo aqui dentro da gente e, portanto, nada é mais importante do que amar. O amor precisa nos incomodar de tal maneira, ferver dentro em nós de tal maneira, que fique borbulhando e transbordando para que o segundo mandamento seja cumprido. “Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.” (v. 31) Amar a Deus é amar ao próximo, amar ao próximo é amar a Deus. O amor está borbulhando, transbordando, fazendo com que amemos para além de nós mesmos, para além de mim mesmo, e, assim, Deus será amado.

Onde está o seu amor ao próximo? Onde está o seu amor a Deus?

Amarás ao Senhor teu Deus de todas as tuas forças."
Obrigado Felipe!

2 comentários:

Ana Pallito disse...

Especial este texto!!!

Beijos querida

Felipe Fanuel disse...

Elsa, querida,

É uma honra para mim ter um sermão de minha autoria citado aqui neste blog lindo, onde nossa amizade começou.

Estou muito feliz.

Beijos de agradecimento.