sábado, 15 de dezembro de 2007

Para pensar II ...




Jornal Expresso - Raquel Moleiro, com Isabel Vicente, 1/12/2007


"A denúncia parte de Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar. São os 'novos pobres': a classe média sobreendividada


Manuela, 33 anos, hesitou antes de escrever aquele «e-mail» para o Banco Alimentar Contra a Fome (BACF). E mesmo enquanto o redigia, não tinha ainda a certeza de, no fim, ter coragem de carregar no botão de enviar. Ela, bacharel em Relações Internacionais, quadro de um ministério, casada com um professor de educação física ex-atleta olímpico. Ela, mãe de uma bebé com cinco meses, tinha agora de pedir ajuda para alimentar a família. O marido que ficou sem emprego, um salário de €2000 que desapareceu no mês em que festejaram a gravidez, a renda da casa que foi falhando vezes de mais, o cartão de crédito gasto até ao limite, o apartamento trocado por um quarto, e nem assim a comida chegava à mesa . "No dia em que enviei o «e-mail» faltavam três semanas para receber e só tinha €80", explica. "Havia para a bebé, mas nós íamos passar fome".

O caso tem um mês. Ana Vara, assistente social do BACF, ligou a Manuela mal leu o pedido. E disse-lhe o que tanto tem repetido ultimamente: não tenha vergonha, não é a única. " Nos últimos quatro meses, mais que duplicaram os pedidos directos ao banco alimentar. E há cada vez mais casos de classe média", garante Isabel Jonet. A directora do BACF chama-lhes " os novos pobres": empregados, instruídos, socialmente integrados, mas, ainda assim, vítimas da pobreza e até da fome. Nos últimos três meses, chegaram ao banco alimentar de Alcântara 250 casos, 30% dos quais se enquadram nesta nova categoria. E em todos há pontos transversais: mais mulheres, muitas mães, desemprego inesperado, rupturas familiares, e sempre sobreendividamento.


(...) As famílias tradicionalmente carenciadas aparecem no banco alimentar, pedem olhos nos olhos. Os novos pobres gritam por ajuda, envergonhadamente, através do correio electrónico. Como Luciana, médica, cujo desemprego súbito do marido fez ruir a estrutura económica do lar de nove filhos. Sem ele saber, sem o magoar de vergonha, pediu apoio alimentar para um casa onde nunca tinha faltado nada. "


9 comentários:

david santos disse...

Passei para desejar-lhe um bom final de 2007 e um bom ano de 2008.

pe.cl disse...

Querida dinha já algum tempo que não chorava como agora estou a chorar, começo a pensar se não serei um piegas, mas este relato comoveu-me mesmo, fez-me lembrar de tempos idos da minha meninice...
tempos em que com frequência encontrava a minha querida mãe chorar sem saber porquê, hoje percebo...
Deixo um desejo que queria fosse uma realidade que todos nós partilhassemos mais o pouco que temos com aqueles que nada têm...

Beijinhos regados de lágrimas.

disse...

voltei

delusions disse...

é uma realidade demasiadamente triste e chocante. mas uma realidade a bater-nos com punhos de realidade.

espero que essas situações desapareçam, independentemente da instrução, idade, ou qualquer outra característica, das pessoas.

um bom voto para 2008



Bjinho*
Boa semana

Tozé Franco disse...

Já tenho presépio e está no blogue.
Começou, oficialmente, a época natalícia aqui em casa.
Qaunto ao Banco Alimentar, também ouvi essa entrevista e fiquei impressionado.
Este ano, no supermercado onde estivemos, recolhemos um pouco menos que no ano passado
Um abraço.

figlo disse...

É por essas e por outras que nas duas recolhas anuais não é precisa grande sensibilização, para que as pessoas colaborem levando o saquinho que pegam para nele partilhar o que puderem, pois que todos temos por perto "casos". Por isso os voluntários são aos milhares e por isso também já passaram por nós pessoas que recebem do Banco Alimentar e numa linda atitude pegam o saco dizendo:
"também quero partilhar o que posso!Há muitos ainda mais pobres que eu".

figlo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cátia disse...

Querida,

A realidade que deixas aqui é muito triste e cruel... Deixa-nos a pensar como tudo muda de um momento para o outro, como a pobreza profunda pode-nos morar mesmo ao lado, naquela pessoa que sempre teve tudo, que aparenta ter tudo, mas que sofre de forma tao envergonhada.

É preciso dar vos a tudo isto, é preciso fazer-se algo para nao deixar que isto se alastre...
Obrigada pelo alerta.

Beijinho grande

Anónimo disse...

Um dos problemas é que esses novos "pobres" estão habituados a fazerem despesas superfluas que eles julgam indispensaveis. Tais como pagar a conta da internet.
Demoram meses ou anos a adaptarem-se à sua nova realidade economica, a perceberem que uns olhos de lentes progressivas não são uma necessidade basica, que podem andar de autocarro em lugar de automovel, etc, etc, etc.

Cam