quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Um Filho, muda tudo!



Chegaste, vi no teu olhar a tristeza de tantas outras vezes, sorriste, mas vi que o teu sorriso era apenas para não chorares, perguntei-te se estava tudo bem, disseste que sim, só e apenas para não dizeres logo que não... cumprimentaste-me, mas ao segundo beijo, abraçaste-me e segredaste-me... - estou mal! -
O que seria desta vez?
Os teus olhos perderam o pouco do brilho que tinham, e perguntaste-me - Tens tempo? - Eu? Claro que tenho! - Eu não tinha...mas tinha que Ter, tive que inventar o tempo...a manhã estava fria, gelada, convidei-te a entrar no carro, que estava ao sol...
Querias falar...mas as palavras saiam-te a custo, pensei que me ias contar algo de ti...mas começas-te por me indicar as pessoas lá fora, que se movimentavam de um lado para o outro...fiquei a olhá-las contigo...que quererias que eu visse? Sim! As pessoas andavam de um lado para o outro, como se fossem autómatos, os rostos fechados, cabeças baixas, enfiadas em casacos, pelo frio, claro, mas a mim pareceu-me que se queriam esconder a elas próprias, para que ninguém as visse, de vez em quando duas pessoas paravam, cumprimentavam-se e depois de trocarem duas ou três palavras seguiam em passo apressado, pareciam soldados que marchavam sob as ordens de um general sem rosto...eu divagava sobre todas estas coisas...e ia-me esquecendo que estavas ali...que querias que eu visse? Que me quererias dizer? Tentava descobrir...mas não conseguia...podia perguntar-te...mas o silêncio era tão profundo que eu seria incapaz de o quebrar...o tempo que eu tinha inventado para ti... ia passando, mas passando como se estivesse parado... De repente apareceu uma senhora, suponho que mãe, com o filho ao colo, e tu disses-te - Que lindo! - eu concordei - Sim! È Lindo uma mãe um filho, é muito lindo ser mãe! - A estas palavras começas-te a chorar, a chorar muito...
Eu não entendia, que disse de errado?
Tu continuavas a chorar...sem me responderes...deixei-te chorar...estavas a precisar...foi aí que comecei a perceber e disse-te - Já entendi tudo...Quiseste que eu visse um quadro...o quadro que muitas vezes sentimos nas nossas vidas, a indiferença dos outros, cada um metido consigo próprio, ninguém olha para ninguém, ninguém tem tempo para ninguém...o que vimos aqui nesta “tela” viva é de facto um retrato muito próximo da vida de muitas pessoas, mas um filho muda tudo, é de facto como um oásis no deserto...foi aí que disseste:
- Estou grávida! Eu sorri e abracei-te - Que bom!! Que lindo!!
Mas, tu continuavas a chorar, porquê?
Mostraste-me as tuas mãos, para eu ver o teu coração... e disses-te:
- Não sei se consigo ser uma boa mãe...como sabes tenho muitos traumas...não fui uma criança desejada, fui uma criança rebelde e pouco amada, uma jovem revoltada...uma adulta inconformada...tenho medo de ser uma má mãe, embora queira e já ame muito o meu filho!
Mostravas-me o resultado das análises - Positivo - e disses-te:
Para além do meu marido...és a primeira pessoa a saber...Eu recebi a notícia com alegria...mas depois veio o medo...encontraste-me nesse momento, queria explicar-te a contradição que sentia em mim, mas não tinha palavras, por isso te pedi que olhasses lá para fora...nem sei porque fiz isso, era para ganhar tempo...mas, a resposta veio mesmo lá de fora...e foste tu que a traduzis-te... disses-te o que eu precisava ouvir...as minhas lágrimas eram de alegria...agradeço a Deus Ter-te encontrado hoje e não noutro dia qualquer!
Abraçaste-me mais uma vez...e eu sentia-me - Nada - e bastante emocionada...tinha perdido as palavras... soltei um - Ainda bem que Ele assim quis! -
Lá fora o frio era cortante, mas ali havia muito calor, aquele calor humano, envolto em lágrimas - De Alegria! - Refeita da emoção disse:
- Sabes...um filho muda tudo em nós! Um filho é um mundo inteiro para nós!
Peguei-lhe nas mãos que ela me havia mostrado...e disse-lhe que sim, que eu tinha a certeza que ela iria ser uma óptima mãe, e que ia dar tudo, aquilo que não teve ao seu filho! Ela sorria, com aquele sorriso que vem do fundo do coração, da alma...e eu sorria também!
Entre sorrisos despedimo-nos!! Fiquei tão feliz! Por ela, por ele... por eles!

14 comentários:

Anónimo disse...

Ainda estou longe de ser mãe. Talvez a uma década. Ainda sou nova e, nos dias de hoje, cada vez se reúne mais tarde as condições necessárias para dar estabilidade a uma criança. No entanto, tenho a certeza que um filho muda tudo. Não há nada mais emocionante, reparador, capaz de preencher do que ver uma criança crescer, mesmo quando não são ainda as "nossas".
Mesmo aquela que não teve a sorte de ser bem amado desde o princípio, tem a possiblidade de, absorvendo o amor de todos os que a rodeiam, fazer o seu filho sentir-se muito e muito especial.
Que amanhã, mais do que hoje e menos do que depois de amanhã, todas as mães saibam perceber que não há maior benção do que a maternidade.

as velas ardem ate ao fim disse...

Acredito que sim....

bjos

Serenidade disse...

Nada mais consigo dizer... lindo, emocionante...

Um beijinho de luz serena.

Andreia disse...

Muitas vezes as crianças que sofreram são os melhores pais, pois não querem que os filhos passem o mesmo!

Um abraço!

brettinha do campo disse...

é mesmo verdade! um filho muda tudo!!!!
e eu que o diga!!!
o meu já tem 6 anos recentes e parece que foi ontem!!! é a melhor coisa da minha vida!!!!
foi um texto lindo e muito emotivo! parabens !!!
beijocas!!!

Era uma vez um Girassol disse...

Um texto emocionado e que emociona...Sim, um filho pode mudar tudo!
Agradeço a visita ao girassol!
Continuarei a vir por aqui...
Beijinhos

Anónimo disse...

Podia ter acontecido de outra maneira, mas não! Aconteceu como tu tão bem descreveste. Uma novidade é uma novidade, mas a forma como se dá essa novidade deixa marcas. Esta deixou...Um texto sentido, com sentidos e uma memória que eu penso vai perdurar em ti.

Um abraço amigo!

Anónimo disse...

Olá,
Que posso eu dizer se os meus olhos não falam!
Transmitem emoções, a essa beleza inconfundível
Que as palavras me transmitem
Aqui estou eu para te dar o meu gesto de carinho
Soberbo...

Conceição Bernardino

Anónimo disse...

Uma criança, uma vida, uma nova alegria, um novo ser à imagem de Deus... Acima de tudo um filho de Deus que seus irmãos teimam continuamente em matar a semelhança de Jesus Cristo o Filho de Deus.

Beijinho

Anónimo disse...

Dia desses recebi cartão dela que anunciava estar grávida. Caí no profundo de um in;icio indescritível. Nasci ali naquele instante distante estranho alheio. Peguei-me a imaginar: e se eu fôsse o pai?
http://cadinhoroco.blogspot.com/

Anónimo disse...

Amém! que linda história!
A maternidade é uma dádiva de Deus e os filhos sua herança!!

beijos

Anónimo disse...

Olá! Entrei aqui, não por acaso, porque não acredito neles... Percebi nas tuas palavras uma beleza muitíssimo grande. Quis agradecer-te por este lugar de paz.
Quanto a este 'post'... Tocante. O modo como descreves o que aconteceu naquele dia é maravilhos. Parabéns.
Quanto à tua amiga, que acaba de ser presenteada com o maior milagre de todos - o da vida - estou certa de que será uma mãe excelente. Basta-lhe procurar dar ao bebé tudo aquilo que ela desejou e não recebeu. Sem medos. Com amor. Oro para que tudo corra bem...
Desculpa esta intromissão, mas não resisti!
Voltarei.
Cristina

Anónimo disse...

Uma abordagem (propositada?...) feita com palavras bordejadas de afectos. Assim, tudo o mais esperemos que sejam sorrisos...
Para eles!
afectuosamente

p.s. - grato pela visita.

Elsa Sequeira disse...

Amigos!
Obrigado pela vossa presença!
Às caras novas dou as Boas Vindas!!
Sois todos muito bem vindos aki no nosso cantinho!!

Nota - Nas emoções não há situações porpositadas, e há sim afectos, muitos afectos, devem ser eles o sal que tempera a nossa existência!! È bom ter amigos, e rir e chorar com eles, dar-lhe amor e mão sempre que percisam!!

beijinhos para todos!!!

:))