sábado, 23 de junho de 2012

A FORÇA DOS NOSSOS PÉS



“Desde o dia em que tu nasceste, eu criei a ilusão, dentro de mim, que poderia caminhar por ti.
Imaginei que colocaria teus pés sobre os meus e te levaria pelos caminhos que eu julgasse mais tranquilos e seguros. Dessa maneira, tu nunca feririas os teus pés pisando em espinhos ou em cacos de vidro e jamais se cansaria da caminhada, nem mesmo precisarias decidir qual a estrada a tomar.
Isso seria eternamente a minha responsabilidade.
E,  foi assim durante um bom tempo, caminhei por ti, para ti.
De repente,
o tempo veio me avisar bruscamente que essa deliciosa tarefa não faria mais parte dos meus dias.

Os teus pés cresceram e eu já não conseguia mais equilibrá-los em cima dos meus, daí quando eu menos esperava eles escorregaram e alcançaram o solo.
Hoje sou obrigada a vê-los trilhar caminhos nos quais os meus jamais os levariam e ainda tento detê-los insistentemente, mas só raríssimas vezes consigo. Agora só me é permitido correr com os meus junto aos teus e em certos momentos os teus passos são tão largos que quase não posso acompanhá-los.
Actualmente, assisto aos teus tropeços sempre na prontidão para  levantar-te das tuas quedas.
Por vezes, tu estendes-me as tuas mãos em busca de socorro, outras, mesmo estando estirado ao chão e ferido, insistes em levantar-te sozinho por puro orgulho ou para me provar que já és capaz de erguer-te após teus tombos e curar-te de tuas próprias feridas.
Não sei se já consegues te cuidar...   Mas...
Assim vamos vivendo e sinto uma saudade imensurável daquele tempo que precisavas de mim para conduzir-te, pois era bem mais fácil suportar o teu peso sobre os meus pés, do que sobre meu coração.
No entanto, já consigo compreender como a vida é sábia. Percebo, finalmente, que em algum momento tu precisaste mesmo desbravar os teus caminhos independente de mim, afinal não tarda muito, serei eu que precisarei dos teus pés sob os meus e tu só terás forças para me conduzir porque te permiti caminhar por um bom período sozinho, aprendendo assim a difícil tarefa de viver.
Que tu tenhas a resistência necessária para suportar o meu peso sobre os teus pés como eu tive para suportar os teus.
É bem verdade que farás isso por um tempo inferior ao que eu fiz, mas como eu, é provável que tenhas que fazê-lo com mais alguns pés sobre os teus, os dos teus filhos. Não, claro que não é uma tarefa fácil, mas se eu consegui, tu também conseguirás porque plantei em teu coração o melhor e mais poderoso aditivo para que suportes tanto peso, o amor! Que é a pura manifestação de DEUS em nós…”

Dedicado às minhas filhas
Alessandra e Vanessa
Autora - Silvana Duboc
10/03/2003

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